2013-12-15

menina

você era a definição mais próxima de paraíso que eu já encontrei. eu fico repetindo isso mentalmente enquanto você despeja toda a sua raiva em mim. enquanto você esquece dos planos que fez comigo. enquanto você desperdiça minha boa vontade em te fazer massagens quando você chega cansada do trabalho ou quando eu preparo o jantar. eu fico repetindo isso mentalmente porque ainda quero me agarrar a ideia de que ainda somos aquele casal apaixonado de algumas centenas de dias atrás, de que nossos olhos ainda brilham ao se cruzar, de que nossos caminhos ainda são paralelos ou ao menos levam ao mesmo destino. e agora você me sufoca em indiferença. você me trata como um qualquer. e eu me esquivo, me protejo como posso, mas nós dois sabemos que sou mais frágil do que pareço ser. apesar da minha idade, apesar da minha experiência, sempre caio como um patinho em armadilhas plantadas por garotas como você. de sorriso doce, olhos meigos e delineados, boca em formato de coração, ombros estreitos, clavícula devidamente simétrica e delicada, cabelos longos... e eu, que me apaixonei pela sua doçura, hoje só me deparo com seu amargor. você me machuca, menina. você me machuca. gosto tanto de você que essa dor me atinge como uma fratura exposta. e quanto mais eu tento me curar, mais você cutuca minhas feridas, mais você me derruba de novo e, de novo, eu me levanto, para mais uma vez você me machucar. o que houve com aquele amor que você me dedicou um dia? o que houve com os laços que criamos, com o carinho que dedicamos, com os nossos segredos e cumplicidade? só restaram cicatrizes. e eu continuo aqui, sentado na beirada da cama como criança de castigo, observando em slow motion suas reclamações do que antes você chamava de charme, enquanto ouço nossa música tocando em meus pensamentos. fecho os olhos na esperança de que, quando abri-los novamente, eu me depare com você deitada na cama vestindo aquela velha camiseta dos stones que eu te dei, me chamando para dormir de conchinha, me dizendo para esquecer essas bobagens. eu continuo aqui, na esperança que você se lembre de que foi apaixonada pelo mesmo cara que está na sua frente hoje, mas se ocupou demais com futilidades e se esqueceu de quem ele é.