2009-11-29

eu não preciso

fingir minha alegria em saber que você é tão meu quanto o contrário.
talvez sejamos um par.
ou talvez sejamos dois ímpares juntos, unidos, enlaçados.
não importa.
eu te amo.

tormento

[...]
sábado a noite e você em casa, vivendo seu tormento. uma dose de vodka em uma mão e a garrafa pela metade noutra, você finge assistir um filme ou o telejornal, arrisca um pornô após a meia-noite mas permanece na angústia. o seu telefone toca e seu corpo estremece, pensa "é ela" mas sabe que ela é grandinha, resolvida e orgulhosa demais para te ligar (ainda mais nesse horário). [...] Alice, sempre Alice. você começa a lembrar de vocês dois na varanda, sob a noite paulista chuvosa e abafada, em um janeiro febril. e nada te lembra amor. apenas prazer e noites fertéis em uma cama que nunca estava arrumada, em uma apartamento que exalava paixão. PAIXÃO, e só. você permanece esperando que ela volte, que ela ligue, que ela obedeça, que ela cresça e resolva sossegar ao seu lado mas o que ela menos quer é sossego. alcool, sexo, música e arte. arte no corpo, arte nos olhos, arte na essência e nas atitudes de Alice, artista nata. ela nasceu do prazer, no prazer morrerá. você sabe que foram feitos uma para o outro e também não foram. é uma contradição.

2009-11-23

feeling.

uma imensidão em mim.
talvez seja o êxtase alcançado ao perdoar e receber o perdão.
como a hóstia consagrada que nos salva até o próximo domingo, livra-nos dos pecados de uma semana para que estejamos livres para pecar na seguinte.
essa imensidão talvez dure apenas uma semana.
ou um mês.
não sei.
e é uma não saber maravilhoso.
ah, o êxtase da ignorância.
aliás, além da imensidão, sinto uma deliciosa sensação de prazer em meus dedos quando tocam as teclas formando a palavra êxtase.
ouça, Ê X T A S E.
é suave e doce, um pouco doentio.
eu sinto chegar algo próximo a mim.
deve ser a chuva.
o brainstorm.
a loucura.
ah, como é bom sentir essas palavras viajando em minha mente, confundindo-me inteira como se eu não soubesse quem sou, por um momento. ou dois.
talvez eu não saiba mesmo.
olha, a porcelana límpida sorri para mim. e me diz: "boa sorte!"
e a sorte do dia diz: "a ausência total de humor deixa a vida impossível."
meu Deus.
eu sinto fibra em meu corpo, sinto sangue, sinto gosto. e sei se é bom!
OUÇA! EU SINTO!
eu sei a diferença, eu sei a equidade, eu sei o tudo e o nada, a centelha, a janela, o fogão, todos me fazem sentir e eu os sinto. e sei que sinto!
pois não louca.
ou sou.
devo ser.
eu adoraria ser louca.
assim, ao menos não teria de viver em justificativas.
neste momento, finjo não sentir nada. e eu sei que sinto a farsa, a omissão do sentimento.
como quando há um beijo e não tocam sinos, nem brota um ramo de flores de nome estranho sobre sua cabeça, mas você sente (e sabe) que o beijo é uma farsa.
chamo isso de hipocrisia dos amantes.
você não quer o amado, tampouco o amante.
mas não sabe. não sente.
por isso, finge para os dois.
pior coisa que há, a farsa.
a mentira.
eu sinto a mentira em mim como um vento gélido que pode até cortar.
e ela me corta.
ELA ME CORTA.
meu sangue não flui, não vejo nenhuma gota no chão.
estou vazia.
é o fim.
o fim.
O FIM.

o melhor de mim.

o melhor de mim é o que ainda não sou. é a transformação, é o que virá, é o que ainda está por acontecer. o melhor de mim são minhas feições naturais, minha face abstrata e meus olhos difíceis de compreender. o melhor de mim são meus defeitos. o melhor de mim é a minha carne fraca, pecadora nata que sou. o melhor de mim é a mentira, é o falso amor, o desamor, o ódio. o melhor de mim é a minha humanidade, é ser gente, pessoa, bicho, monstro, poeta, não-sei-o-quê. o melhor de mim é a minha palavra. o melhor de mim sou eu.

2009-11-22

Sal doce

Sal doce em sua pele perfumada e branca, mergulhada em mar. Olhos vermelhos, mãos pálidas, frias, suaves. Detalhes de alguém em minha vida. Minha vida nos detalhes de alguém. Seus dedos longos percorrendo meus cabelos também molhados, desfazendo nós, fazendo nós. Diz que agora é cedo e ainda teremos o dia todo pela frente, que ainda não acabou, que a noite ainda não chegou porque eu a odeio. Amo ver o sol nascer no seu peito, incandescendo o calor do seu corpo, refugiando meu medo do fim. Amo ver o sol raiar nos seus olhos cor de terra e castanhas frescas, recém colhidas, sempre úmidas. Odeio a noite e o escuro. Odeio ter que dormir quando poderia aproveitar a vida que criamos para nós. Enquanto deveríamos criar um histórico de passagens e sentimentos e sensações e... amor. Odeio a noite e o efeito de cansaço que ela nos causa, odeio ter de esperar o dia seguinte, preferiria permanecer no agora, no agora sempre, no agora eterno. Enquanto somos um todo. Enquanto somos separados amores de um só amor. Enquanto só nós sabemos o significado de nossos escritos, desenhos e arquiteturas secretas na areia, no mar, nas árvores, no mundo. Enquanto sabemos a quem pertencemos. Enquanto ainda é sempre e só e somente e único e unicamente e eterno e eternamente e nosso amor.

2009-11-20

eu aqui

e você em Campinas depois do trânsito, carros, prédios, poluição e sabe-lá-Deus-quantos-quilometros.

término

acabou tudo.
finite.
o copo
o coração
o gelo
o amor
QUEBROU
enquanto sorrimos
mentimos
fingimos
dores
sensações
pesares
alegrias
a última parte de mim que era
EU
VOCÊ
NÓS
NÓS
os nós dos seus cabelos nas minhas mãos frias
e agora
vazias
partidas
interrompidas
cálidas
a última parte desse romance
mentira
a última (e primeira) parte desse nosso amor
desse nosso nada
desse seu nada
desse meu tudo
eu ainda penso que...
acabou
você ainda pensa que...
não
sim
talvez
não sabe
nenhuma das alternativas
eu tão impulsiva
tão sentimental
tão sensível
tão atingível
tão sua
você tão inconstante
tão quente
tão morno
e agora
frio
monótico
sem palavras
sem sabor
e eu fiquei sem
chão
sentimentos
amor
palavras
você
mim
ter o quê dizer
querer dizer alguma coisa
ainda há alguma coisa e é
acabou
acabou
ACABOU.