2011-01-28

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lembro de nunca pensar duas vezes antes de escolher algo embora eu sempre tenha sido tão indecisa. mas me lembro principalmente que minha indecisão sempre foi por acreditar que amava demais e nunca saber escolher entre paixão e amor. não apenas quando tratamos de homens. também. mas não necessariamente. minhas escolhas são, em maioria, infundadas e precipitadas. gosto de sentir medo de errar. gosto de ser ansiosa e ficar aguardando, aguardando, aguardando. minha preferência é sempre pelo mais difícil porque aprecio a superação. gosto de dizer "consegui" e gosto do sabor do mérito. lembro de vezes que não fiz por merecer e não disse, mas lembro de muitas mais vezes que fiz por merecer e recebi elogios, criticas, ofensas, agradecimentos. não sou do tipo de falsa modéstia. admiro minhas qualidades. em algumas, não vejo sentido. as vezes desacredito-me. sou daquelas que tem muita fé e que nunca estão satisfeitas. meu esforço nunca é suficiente e, por acreditar em quem sou, sempre quero mais. prefiro não me resumir, mas quando é preciso digo apenas: ...

a paixão dura apenas dois anos.

no fim, o que resta, é o amor. o amor puro, sempre diferente, sempre indiscreto, sempre forte, sempre divino. o mesmo amor que faz com que eu escreva, que alguns fumem, se droguem, se matem, cantem, dancem, pintem ou simplesmente, apenas amem, como se amar por si só já fosse um grande feito (e o é). amor, sempre amor. por mais que fujamos, tentando negar nossas próprias obviedades diárias, tudo sempre termina em amor. assassinos amam sangue. loucos amam o dinheiro. pintores amam tintas e telas. escritores amam palavras. mães amam maridos, filhos, amantes. músicos amam o som. tudo se resume em amar. não há nunca um meio ou um final, o amor é sempre o início. sempre o começo. sempre o primeiro passo. sempre o agora. não existe passado para o amor, o amor não acaba. se acabou, não era amor. era admiração, carinho, respeito, desejo, paixão, necessidade, vício. a puta que o pariu. amor não era. amor é o instante que divide o tempo real e o irreal. o sensato e a loucura. e o infindável. o amor perdura para tudo. enquanto não há amor, não há verbo, nem sujeito, nem conjugações, nem objeto. não há nada. não há nada antes do amor.

2011-01-23

reencontro.

ontem vi seus olhos através dos olhos de um personagem naquele lindo filme.

me deixa esquecer do que poderia ter acontecido.

nada aconteceu de fato.

2011-01-06

abandona-me.

sempre soubemos a hora certa de dizer adeus.
para nossos pais, tardiamente.
para nossos amantes, secretamente.
para nossos objetos de uma noite só, pontualmente.
e assim seguimos com nossos amigos, cúmplices de uma árdua e inteira vida.
agora é a hora.
vamos: abandona-me.
só não me pede o mesmo... desaprendi certos maus hábitos.

2011-01-05

obrigatoriedade das coisas.

penso no que teria nos ocorrido se nossas escolhas fossem diferentes. se eu tivesse vestido a blusa vermelha ao invés da azul, sem saber que você odeia vermelho. se eu não tivesse mudado meu trajeto desmotivadamente só para topar com você no farol daquela avenida. ou ainda, se eu não tivesse lhe retribuído o olhar dócil que você me dedicou naquele momento.
sabe de uma coisa? nada teria mudado. ainda seríamos dormentes apaixonados, completos amantes inconscientes. ainda seríamos nós: os únicos capazes de nos fazer felizes.

2011-01-04

sem sentido.

é como se, ao mesmo tempo, eu estivesse a margem do abismo oculto que é o amor e alcançando o topo do mais alto céu, que também é o amor.
continuamos, como de costume, sem sentido.
e, como de costume, o sentimento é o mesmo.
é sempre amor.

2011-01-03

maus hábitos.

hoje assisti um filme incrível, romântico (é claro) e intenso, do jeito que gosto. quando assisto esse tipo de filme tocante, sinto como que uma vontade imensa e eterna de mudar, transformar a minha verdadeira e derradeira essência em outra, ou outras, diferentes da real e presente. sinto como se eu tivesse que ser mais poética e empregar todas as frases de Lispector e Pessoa que tenho na ponta da língua, em todos os meus diálogos cotidianos como se assim, eu te tornasse mais romântica e incapaz de qualquer forma de controle, tal qual a protagonista do filme que assisti.

eu te amo e você ama outra, mas ainda assim te amo pois não consigo te odiar por amá-la. (?)
(é possível substituir o "amar" por "querer", "odiar", ou qualquer outro verbo que se encaixe na sua situação atual).

é muito curioso esse sentimento de poder tudo e deitar-se a cama imaginando dezenas de conversas sinceramente treinadas e, simultâneamente, sutis como um ator talentoso e jovem, que ainda não se apegou a técnicas de interpretação.

pois a vida é exatamente dessa forma, feita de papéis. e enquanto me distraio de pensamentos tolos sobre um rapaz desaparecido, você pode estar lendo e admirando ou lendo e simplesmente pensando "o quê essa maluca queria com isso", ou infinitas outras combinações que não cabe a mim listar. deixo o papel para o seu inconsciente.

listo aqui, um de meus maus hábitos: prática da falta de assunto, tediosidade.

2011-01-02

pássaros.

tenho um coração e é feito de pássaros.
atravessando um continente na troca de estações
perdi asas, vôos, deixei de cortar nuvens
e outros corações.

dia desses, atiraram nesse pássaro.
o peito sangrou.
as asas cairam, frágeis.
e acabou tudo como se nunca tivesse começado.

fim.