2010-05-12

ele queria dizer a ela que... nada havia além de reticências.

mas eles se limitaram a fazer interpretações tolas de nada. nunca houve nada a ser interpretado, por mais que quisessem. ele nunca mentiu mas, ela, como quem decide acreditar em uma mentira, optou por não crer na verdade. ela quis ser enganada e ele não quis enganar. ele não podia. ele a amava tanto em sua fragilidade de emoções, em suas fraquezas insólitas e perdidas naqueles cabelos ruivos ferrugem. ele a amava tanto que até seus erros de linguagem eram belos, seu sorriso torto, suas mãos sempre trêmulas e com unhas roídas que o encantavam ao invés de abominar. ao mesmo passo, a menina era tão jovem. nunca amara na vida. nunca havia lidado com um homem na vida. e, de cara, aos dezessete-anos-e-oito-meses de idade, notou que amava um homem que não podia ser dela. não porque não a amava também. mas porque não havia espaço suficiente para o sentimento dos dois, eles acabariam por se derramar. eles se perderam com tempo: ela se desvirtuou pela bebida e o sexo descabido que o mundo da arte a proporcionava. uma fuga constante. ela nunca fugiu dele, ela fugia de si mesma. ele enterrou-se ao lado de uma esposa fria, insossa e intragável. ela tentou tornar sua vida um tormento até descobrir que o tormento seria um céu comparado ao que ele via com sem aquela jovem. aquela jovem que lhe sorria despretensiosamente, que lhe afagava os cabelos, que deitava em seus joelhos sussurando canções infantis. aquela jovem de cabelos longos e ondulados, cor de brasa fumegante. aquela jovem intensa que nunca lhe dissera nada além de: eu te amo. como se fosse "bom dia". como se fosse "eu te odeio". a única menina que o cativou por mais de um instante. e ele a deixou antes de notar que ela já era uma mulher. pobres almas sem felicidade. melhor fosse dado fim a vida dos dois. seis anos depois ele perceberia que ela ainda o amava. mas ele só descobriu esse fato no dia do enterro dela. quando ele se deu conta que ainda a amava também, em seu tempo, tirou a própria vida. e acabou. restam as reticências...

2010-05-09

espelho.

descobri que mudei, transformei a minha essência sem perceber.
e mudei para pior.
na realidade, regredi.
e isso é ruim.
me faz sentir podre, mórbida e irreparávelmente triste.
não ouço mais as músicas que aprecio.
não leio mais os autores que aprecio.
tampouco faço as coisas que aprecio.
e acostumei minha consciência a acreditar nas minhas próprias mentiras:
- falta de tempo;
- falta de ânimo;
- falta de amor pelas coisas;
- falta.
e agora me sinto cansada, extremamente e por inteiro.
como se carregasse o mundo, o mais pesado dos mundos: o meu.
e essa insensatez me corrompe, me queima, me envergonha.
estou desprovida de prazer pelo mundo, estou continuamente descontente.
permaneço aqui, fluindo palavras, deixando que elas escapem, permitindo que elas soem.
mas são vazias.
você, leitor, descreva o sentimento dessa postagem?
descreva, vamos.
DESCREVA POR FAVOR.
estou me desprendendo do orgulho que me apega as mentiras, estou sendo sincera com você.
então me diga, ainda sou capaz?
ainda tenho salvação?
ainda posso?

2010-05-06

nada passa.

as horas, a vento, a vodka nesse copo sujo.

tudo permanece.

tudo, tudo, tudo.

eu sou uma tola, idiota, frágil.

me quebrei correndo da vida e me deparei com ela no túnel do metrô.

agora acabou.

o trem passou.

e a vida continua.

dor, espera e fim.

Não, não vou dizer novamente como foi trágico, cômico e predestinado o nosso fim. Eu já sabia que tudo seria dessa forma, eu sabia que nosso amor não tinha jeito. Nem maneira de continuar, tampouco. E, enquanto seus olhos marejados me fitam quase que inconscientes, eu já estou arquivando as suas lembranças. Já estou me desfazendo dessa dor pois eu não posso mais. E, quando parado no farol em um dia frio e úmido, você olhar para o vidro embaçado do seu carro e se lembrar das coisas que eu escrevi, das palavras que eu te deixei, e você não mais sofrer, e você não mais pensar em ligar, eu saberei que você estará livre de mim e poderei escrever tranquila. Entenda, querido: sou das palavras de amor e só se vive amor, não vivendo-o. Só se vive o amor na perda, no pesar, na morte. No coração se estraçalhando e nas almas partidas sem semelhante. Só se vive o amor no sofrimento. E eu não escolhi o quê me foi dado, apenas aceitei. Somos pólos iguais e perfeitos, completamente compatíveis. No silêncio. Suas palavras transformaram o que havia de mágico e o que havia de encanto se quebrou. Eu descobri ser um esboço enquanto você já era a arte final. E esse foi o nosso fim. Aceita. Eu amei você; E o amor acabou.