2009-07-12

mesa posta, café quente.

eu perdi anotações na biblioteca imensa que é minha mente. mas o perdido sempre é encontrado. logo, descobri a gaveta onde anotei meus segredos e minhas omissões. percebo agora o quão perigoso é esconder-se de si mesmo. neste momento, em sã consciência, entendo o tamanho da tenebrosidade que é omitir-se, negar-se. é como dizer a uma flor que ela não e uma flor. é fazer a flor acreditar que não passa de uma capim sujo e comum. um capim bastardo, fruto de nada. ou, pior, dizer a flor que ela não existe. no inicio, a tendência é não acreditar, depois, cria-se uma ideia de que "isso tudo é um sonho, não pode ser realidade", então vem a compreensão dos fatos. absorve-se a mentira ou a não-verdade, como preferir. eu estive cega e cega permaneci. tratei minha visão com colírios e atualmente uso óculos mas minha alma está cega para sempre. para sempre. entende a profundidade? consegue sentir a pontualidade que tem o "para sempre"? essa é a exata dádiva mentirosa. o "para sempre" é uma farsa e não é. é uma contradição, uma falsidade. como o mogno podre das gavetas que encontrei. a madeira falsa, o fundo da gaveta, também. tudo segue uma linha de conjuntos, pares perfeitos. para o branco, o preto. para o céu, as nuvens. há uma combinação inenarrável em tudo. para a mentira, a negação. não havia nada ali que eu já não conhecesse (mesmo que inconscientemente) então, no intuito de fingir a surpresa (que idiotice, fingir surpresa dos próprios fatos), neguei saber do que se tratava. continuo negando. já esqueci o meu passado e os pesares e mágoas que costumava carregar, joguei todos em uma poço sem fundo. meu único receio agora é que "os esquecidos" tenham se agarrado a alguma corda oculta ou, simplesmente, a uma pedra na parede do poço e estejam se rastejando de volta, lentamente vindo ao meu encontro. a mesa do café está posta. espero não ser pega desprevenida.

06:39


Acordei cedo numa tentativa idiota de fazer o dia durar mais, nunca dura. Em todo caso, no auge da preguiça, permaneci em minha cama afirmando que o tempo dura exactamente o tempo que ele deve durar. Não existe tempo arrastado, concluí. Isso é coisa da cabeça de gente apaixonada por outra gente ou por outra coisa, sei lá. Já são seis-horas-e-trinta-e-nove-minutos, só não me pergunte os segundos pois meu celular não diz. Aliás, tenho que deixar essas manias, celular afinal, não diz coisa alguma. E a hora passa e o frio aumenta. Meus pés doendo. Curioso, tudo isso. Não sei, acho que vou pensar em alguma coisa ou em coisa alguma. Vou deixar a palavra entrar em mim de novo e tomar o lugar que é dela, vou deixar ela se instalar e fazer moradia nessa casa sem colchões. Me encolho sobre as cobertas não pelo frio. É a palavra vindo que me causa arrepios. Eu tenho receio do quê farei quando ela chegar, quase enlouqueci, quase não voltei do último brainstorm. O brainstorm é como uma chuva de verão. Terei de pensar nisso, esse pensamento já está pronto, evitá-lo será pior. O brainstorm é como uma chuva de verão. Num momento você para no meio da rua e olha para o céu, tentando vê-lo através dos edifícios-monstro. E lá estão o céu azul-calcinha. Ou azul chiclé de hortelã, você escolhe. De repente, tudo escurece e parece noite, eclipse, fim do mundo, cinema ou no quê a sua mente associar. Uma gota de água toca o seu rosto. Ah, esqueci de dizer que isso tudo acontece extremamente rápido. Não o tempo que passa rápido, os acontecimentos. Quando você se dá conta, já está encharcado. A chuva de verão inunda você. Não vou mais chamá-la de chuva e sim, de tempestade. A tempestade envolve você. Depois de molhado, ela te acompanhará por um longo tempo. É uma questão lógica: você toma chuva, você fica molhado, você pega gripe, a tempestade está viva em você. A gripe do brainstorm é isso. Isso que você lê. É neste exacto momento que meus dedos mal conseguem descansar, meus dedos doem, meus dedos faiscam. E minha mente parece que vai explodir, é muito, muito, muito. Tenho receio em não ser fiel a tudo que vejo pois o brainstorm também é isso: visão. E vejo tudo o que meus 2,5 graus de miopia não conseguem ver sós. Vejo toda a imensidão do mundo e das palavras, as coisas todas juntas e separadas que formam e desformam, transformam, modificam-se, criando o novo e o velho mais uma vez. É uma criação sem fim. Não há como parar. Ao sentir a primeira gota, você tem a impressão de que choverá o ano inteiro. Mas da mesma forma que ele vem, vai. Rápido. Fugaz. Chega a ser cruel pois você acaba de ver o mundo e, de repente, a luz se apaga, os óculos se partem, os olhos giram na órbita invisível e nada mais se vê. Permaneço em estado de graça, como um doente que acaba de saber que não mais o é. Como uma planta que descobre ser árvore. Como o universo que descobre ser infinito. Não há fim, não se sente o fim, o fim não é. Não sei explicar. Apenas acaba. Mas acabar parece diferente de fim. Parece apenas momentâneo. Sinto que, a qualquer momento, voltará a chover. Desejo estar preparada e ter em mãos papel, caneta, luz, alma e força para aguentar. Mas nunca se está. Nenhuma força é suficiente. Você apenas recebe, vê, sente. E logo, passa. Deve ser por isso que não carrego guarda chuva. A chuva se vai mas a palavra fica. Olho meu celular: 06:40.

2009-07-09

dificuldade explícita.

[...]
não sei me expressar por palavras faladas.
não sei conversar, dialogar, colocar em prantos limpos (tampouco, sujos).
não sei discutir relações e sempre dou duplos-sentidos não intencionais.
e pareço enganar mas não consigo enganar nem quem vos escreve (por sinal, eu mesma).
não sei gritar sentimentos, nem mesmo sussurrá-los.
é como diz a canção "eu queria poder dizer sem palavras".
o silêncio me acompanha.
apenas.
prefiro a palavra escrita.
ela, sim.
ela me encanta.
ainda permaneço aqui por isso.
por amor a palavra.
e permanecerei até que ela me falte (ou o contrário).
[...]







Sejam pacientes, o que há de melhor está por vir.
Meu livro está quase pronto, assim que eu puder, publico aqui outros trechos.
Beijos para os que visitam sempre e beijos especiais para os que comentam.

agora

é como ouvir o chamado e não saber como ir.