2009-09-06

deveres (não) intencionais

eu deveria escrever mais. eu deveria me dedicar a palavra com a intensidade que ela se dedica a mim, não partir. eu deveria ficar sempre. eu deveria permanecer ao lado de todos até o fim, até a morte. eu deveria saber olhar os dois lados da moeda e ganhar sempre o "cara-ou-coroa", ao invés de apenas derrubar a moeda no chão e fazê-la girar. eu deveria me agasalhar a noite e manter minha saúde estável, deveria ouvir os conselhos da minha mãe enquanto ela não cobra por eles ou se vai. eu deveria prezar a compania de todas as pessoas, inclusive das ruins. eu deveria acreditar que ninguém é ruim por completo, apenas em parte o é. eu deveria responder a todas as perguntas que me fazem, como uma obrigação, como se não fazê-lo me gerasse um castigo da qual eu me arrependeria. eu deveria prestar atenção em todos os dialógos e monólogos, eu deveria prestar atenção no que eu digo com a minha própria voz aos meus próprios ouvidos. eu deveria me apaixonar por todos os olhares furtivos que cruzassem com os meus olhos também furtivos, eu deveria me perder sempre e deixar que o jamais me envolvesse por completo, como uma sinfonia de "sim". eu deveria experimentar o novo e permitir a diferença sempre. eu deveria esquecer as escolhas automáticas e sempre seguir um caminho novo. eu deveria permitir o fracasso quando fosse necessário o aprendizado mas, deveria antes, aprender com fracassos anteriores. eu deveria entender que minhas limitações também são vantagens. eu deveria... apenas acreditar que um dever tem de ser cumprido e não deixado por terminar em um bloco de anotações aguardando uma postagem....
___________________________________________________________________*
eu postei esse rascunho apenas para ver no que daria, não está terminado.... esse será, possívelmente, o primeiro texto no meu livro, como uma série de deveres a serem cumpridos nas crônicas seguintes ou alguma coisa parecida. sei lá.

olhos que vêem o céu

tenho observado tudo com grau maior de atenção. não que acredite no "viva o agora como se não houvesse o depois", não é isso. estou fascinada por um mundo que sempre existiu mas eu nunca vi. nada está diferente no mundo, as coisas mudaram em mim. talvez seja momentâneo, talvez permaneça inalterado. tenho visto tons de rosa em degrades sutis e diversas variações do mesmo azul no céu que antes eu via sem cor. meus olhos mudaram sem que eu consultasse um oftalmologista. o mais interessante é que não foi voluntário, quando percebi já estava mudado. acordei numa bela manhã e, simples e absolutamente, olhei tudo. desde a cadeira marrom-terra as paredes creme e cenoura. eu abri os olhos e vi tudo. passei a enxergar claramente e sem nenhum esforço diversos detalhes imperceptíveis. passei a ver a alma do mundo. olhei a senhora de olhos azuis por detrás dos oclinhos de armação tartaruga e descobri uma alma triste e carente. eu vi a essência daquela senhora. e ela não teve a oportunidade de me enxergar e dizer o que via, ela desceu ônibus logo em seguida. eu perguntaria o que ela vê quando olha através dos meus olhos. eu ainda não me enxergo, mas permaneço na esperança de que terei essa falha corrigida em breve.