uma imensidão em mim.
talvez seja o êxtase alcançado ao perdoar e receber o perdão.
como a hóstia consagrada que nos salva até o próximo domingo, livra-nos dos pecados de uma semana para que estejamos livres para pecar na seguinte.
essa imensidão talvez dure apenas uma semana.
ou um mês.
não sei.
e é uma não saber maravilhoso.
ah, o êxtase da ignorância.
aliás, além da imensidão, sinto uma deliciosa sensação de prazer em meus dedos quando tocam as teclas formando a palavra êxtase.
ouça, Ê X T A S E.
é suave e doce, um pouco doentio.
eu sinto chegar algo próximo a mim.
deve ser a chuva.
o brainstorm.
a loucura.
ah, como é bom sentir essas palavras viajando em minha mente, confundindo-me inteira como se eu não soubesse quem sou, por um momento. ou dois.
talvez eu não saiba mesmo.
olha, a porcelana límpida sorri para mim. e me diz: "boa sorte!"
e a sorte do dia diz: "a ausência total de humor deixa a vida impossível."
meu Deus.
eu sinto fibra em meu corpo, sinto sangue, sinto gosto. e sei se é bom!
OUÇA! EU SINTO!
eu sei a diferença, eu sei a equidade, eu sei o tudo e o nada, a centelha, a janela, o fogão, todos me fazem sentir e eu os sinto. e sei que sinto!
pois não louca.
ou sou.
devo ser.
eu adoraria ser louca.
assim, ao menos não teria de viver em justificativas.
neste momento, finjo não sentir nada. e eu sei que sinto a farsa, a omissão do sentimento.
como quando há um beijo e não tocam sinos, nem brota um ramo de flores de nome estranho sobre sua cabeça, mas você sente (e sabe) que o beijo é uma farsa.
chamo isso de hipocrisia dos amantes.
você não quer o amado, tampouco o amante.
mas não sabe. não sente.
por isso, finge para os dois.
pior coisa que há, a farsa.
a mentira.
eu sinto a mentira em mim como um vento gélido que pode até cortar.
e ela me corta.
ELA ME CORTA.
meu sangue não flui, não vejo nenhuma gota no chão.
estou vazia.
é o fim.
o fim.
O FIM.