2011-08-27

this is not a love song.

Parada no bar, olhando você escolher sua bebida, percebi suas maneiras, seu jeito de conquista barata e seu charme pobre de palavras fracas. seu sorrisso nem é tão bonito assim, seus olhos nem são tão encantadores. bebendo whiskey-cola com gelo num copo de acrílico, fumando para cacete, rindo das minhas piadas toscas e dançando sem jeito. arrisco dizer que você não faz meu tipo, é verdade. mas, enquanto danço para você e tento te ensinar salsa, você me olha e então, basta. não existe palavra, música, bebida ou outro alguém. é só o teu olho que me basta. como se eu tivesse parado a pista e dançado para você e você parasse sua vida para me ver dançar. e te sinto me querer em um estado de urgência que... ah, se eu te pego. desejo não é estado permanente, não é mesmo? mas não precisamos de muito, só fogo e alcool. e arde. e queima. não é fácil resistir com você provocando assim.

2011-07-13

caminhando entre nuvens.

sobre sonhos e poesia, minha vida tem se constituído mais leve e suave nos últimos meses. as dificuldades ainda existem. alguns sofrimentos são para toda a vida. os defeitos continuam a me machucar esporádicamente. as palavras estão cada vez mais escassas. meu coração está cada vez mais cheio. então experimentei viver no corpo de uma novidade, de uma notícia fantástica, de uma imaginação. experimentei, por um dia ou mais, viver ao som da minha música favorita como se tudo coubesse nas minhas mãos e toda a beleza estivesse nos meus olhos. experimentei acreditar na minha maior verdade e vivê-la, sem que ninguém me impedisse. não é (im)possível. pensei menos em consequências. penso menos no sofrimento futuro. se estou fadada a sofrer, decidi deixar para mais tarde. só deixei para amanhã, o mal futuro. sei que meu coração vai se partir a qualquer momento. meu amor é difícil, complicado, cheio de barreiras. mas, por hora, me faz tão bem. então decidi não sofrer pelo que acontecerá. eu tenho que tentar ser feliz. eu tenho que me deixar ser amada, ao menos que um pouco. eu tenho que descobrir o que é o amor em mim e nos outros. então vou começar.

2011-06-12

paixão de um lado só.

"- Você tem um imaginação muito fértil, querida", disse um amigo. esse é o ponto exato em que nossos sonhos se partem. eu não quero alguém para escrever um futuro comigo agora. eu quero só passar um tempo e ver como amar também pode ser momentâneo e leve, se você assim decidir. quero caminhar sem rumo e sem ter medo de perder a direção, a cabeça e os sentidos. quero guiar meus passos por um atalho para dois. chega de presenciar paixões de um lado só. chega de eu ou você gostando, eu ou você querendo. nunca dá certo, não é mesmo? então vamos parar de imaginar o futuro, eu juro que tento se você tentar também. porque, enquanto eu vejo tudo em pólos positivos e verdades criadas para nós, você vê o oposto: a negação. ou o contrário. ou as duas coisas ao mesmo tempo: eu e você, nos amando louca e imensamente, como se só existisse esse minuto - e o minuto seguinte fosse uma surpresa, um desespero de uma lágrima - e, ao mesmo tempo, nos negando como que em oração. não quero, não amo, não espero, não desejo, não sinto. penso que deveríamos deixar só a primeira parte acontecer e ver o que acontece, o que você acha? vamos correr o risco de andar juntos nesse caminho curto. se não der certo, a outra estrada começa logo ali.

2011-05-29

gota.

nada nos impede nas eternas possibilidades e impossibilidades que nos rodeiam. eu esperava ter a mesma habilidade para dizer em palavra falada da mesma forma que em palavra escrita. seria tão mais fácil se eu tivesse a coragem necessária para isso. seria tão mais admirável. mas também seria pouco solene e sutil, fugindo do meu eu. então eu desejo que você apenas imagine que eu estou interessada por suas palavras e dedicações alheias a mim. eu desejo, com intensa vontade de concretização, que você me note na pista, na areia, no mar, na rua, no céu. eu quero que você me veja aqui, aguardando sua próxima ação, repleta de palavras para te entregar e sentimentos. me olha aqui: sentada, calada, fria. completa de ausências. e vem mudar esse estado. vem mudar esse país inabitado que é o meu peito. vem me trazer alguma esperança de amor ou de dor, não importa qual, só vem. eu não espero uma imensidão; uma prova já é de bom tamanho. como quando você é um alcoólatra: após um longo período de abstinência, qualquer gota já é suficiente para despertar aquela vontade bruta, voraz e instigante que estava adormecida. eu só quero uma gota. vem.

2011-05-22

sensibilité.

incrível minha capacidade de acreditar em sensibilidade: tocar e sentir, separadamente e, as vezes, ao mesmo tempo. tenho a impressão de manter meu coração fora do meu corpo por algum tempo para sentir o vazio da falta de sentimentos e depois recolocá-lo no lugar e sentir um turbilhão de acumulados inconstantes. tenho vivido muitos bons momentos e nenhum excepcional. não existe mais exagero nessa vida em que estou e talvez seja o momento de mudar. nada radical demais, nada arriscado demais. desaprendi com certos erros ao invés de aprender com eles. essa talvez seja outra sensibilidade minha: desatenção. muitos são detalhistas, e eu o sou, mais sou também desatenta. quando você se prende a ideia de entender tudo sobre algo, de entender o âmago das pessoas e coisas acima de você e ao seu redor, é onde você mais perde detalhes. e, perfeccionista como sou, não suporto(aria) conviver com uma falha dessa. não acompanho meus raciocínios e talvez pensar nisso me faça ainda mais perdida em relação a eles. tenho criado uma certa aversão aos sentimentos em geral e isso me prende ainda mais. mesmo sem querer me prender, me sinto constantemente engaiolada por tudo o que mais prezo e admiro: a palavra e o amor. a primeira me engaiola na atual falta de possibilidades. já a segunda, me engaiola em sua ausência. como eu já disse diversas vezes: desaprendi o amor. não sei como funciona, não me pergunte. apenas coleciono palavras de amor, escritos, cartas, livros, fotografias e filmes, algumas memórias distantes e uma gaiola preenchida pela falta seca e amarga. como uma maçã apodrecida. como um coração doente. como uma boca recem vomitada. mas eu permaneço na crença de que mudanças ainda são possíveis, sentimentos são mutáveis na mesma proporção que instáveis. eu ainda acredito, você não?

2011-05-03

farsa.

toda essa nossa estória não passa de uma farsa. seus dedos deslizando no meu braço para levantar a alça da minha blusa; nossos olhos se cruzando enquanto jantamos em falsa ingenuidade; seu olhar estático para minhas mãos tremulas; meus olhos piedosos enquanto você descreve seu dia difícil... não estou mais interessada em você ao ponto de ouvir suas bobagens, ao ponto de fingir tão sutilmente. você já não merece sutileza. então vamos combinar o seguinte: não me diga o que quer dizer, diga exatamente o que não quer dizer e acaba dizendo. diga tudo sem pontos e sem vírgulas. me diga sua alma. prometo que se cumprir sua parte do acordo, permaneço te dando chances, uma após outra, incansavelmente. estamos em um ponto irreparável, querido. estamos em um ponto em que eu já não consigo identificar onde você começa e onde eu termino. em um ponto em que nossa intimidade se tornou sufocante e estamos nos desgastando por demais, nos maltratando com nossos erros por demais. tento diariamente relevar suas falhas e esconder minhas falhas debaixo do tapete sujo que se tornou nossa convivência. esse fingimento é uma afronta ao que nos uniu. é uma afronta ao que nos mantém unidos. é uma afronta ao que nos fez amantes. precisamos nos separar para que continuemos unidos. uma contradição. sempre uma contradição. não imagino sua vida sem ter quem zele por ela. não imagino minha vida sem ter a sua por zelar. estamos correndo um perigo irremediável: a morte. não a física, obviamente, já que somos saudáveis na medida do possível. falo da morte intangível, a morte do abraço de despedida. esse momento se aproxima e o que nos resta é permanecer tentando, aguardando, mudando nossos móveis de lugar. desde que sucumbimos no amor, nada mudou. eu sou a mesma em dedicação, carne e palavras. e você: ainda é o mesmo?

2011-04-25

porém...

poderíamos ter caminhado um pouco mais e avançado na noite ao invés de termos parado no tempo. poderíamos ter acreditado em nossas escolhas, confiado em nossa reciprocidade ao invés de questionar, questionar e questionar. somos duas crianças perdidas em nosso leito, somos dois jogadores fracos e sagazes tentando enganar a roleta. mas a roleta funciona, querido. não se engane na vitória, é apenas um momento. eu permaneço aqui aconselhando-te. meus conselhos dependem da sua vida da mesma maneira que sua vida depende do alcool e das mulheres e da jogatina barata que te seduz. eu nunca vou abandonar o que há de melhor em você. mas estou me cansando dos seus dias de lixo, sujeira e imundice. você é tão fraco e, ao mesmo tempo, tão imune a tudo isso. o mundo não te toca. a sua carne não se desfaz. você ainda vai encontrar quem te odeie e saiba que esse dia chegará logo. enquanto eu continuo aqui, continua sendo esse merda. eu preciso de outra vida para me ocupar o tempo que resta. eu preciso da sua vida aqui, entrelaçada com a minha, como que um elo. preciso da sua vida para te dizer o quê fazer e para te dizer que isso é errado, porra, porquê você insiste nisso? preciso te dizer que ainda amo o que há de melhor no seu talento para ser o seu pior. preciso te dizer que te amo. sempre, sempre e agora.

2011-04-03

eu fico aqui a noite pensando no que me mantém afastada de você. em quem é você, principalmente. essa é, de fato, a principal e mais essencial pergunta que eu tenho pra mim mesma. eu não sei mais para quem escrevo. não tenho leitores. não tenho fãs. e você não é um alguém real e sim o amor platônico que criei como que para sustentar a minha falta de habilidade em amar algo/alguém que exista essencialmente. não que eu seja diferente ou superior, só perdi a capacidade de amar. talvez seja a expectativa. já me entregue tanto ao amor quando era mais jovem. derramei tantas lágrimas. me frustrei. amei de novo. e caí nas ilusões que eu mesma criei. não ouso dizer que fui enganada por outros, se não por minha própria culpa. meu próprio veneno acreditar demais, confiar demais, ser positiva demais. e me apegar tão depressa. me dedicar tão solenemente ao que nem começou. e me perder. perder a cabeça, e o coração. eu sempre fui, sempre serei tola. mas também esqueço veloz. quando dou por mim, já se tornou lembrança. e se esvai. as vezes fica um leve resquício. as vezes nada. eu sinto falta de realmente ficar louca. mas quando isso acontecer, espero só reciprocidade. nada mais. apenas o retorno.

2011-01-28

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lembro de nunca pensar duas vezes antes de escolher algo embora eu sempre tenha sido tão indecisa. mas me lembro principalmente que minha indecisão sempre foi por acreditar que amava demais e nunca saber escolher entre paixão e amor. não apenas quando tratamos de homens. também. mas não necessariamente. minhas escolhas são, em maioria, infundadas e precipitadas. gosto de sentir medo de errar. gosto de ser ansiosa e ficar aguardando, aguardando, aguardando. minha preferência é sempre pelo mais difícil porque aprecio a superação. gosto de dizer "consegui" e gosto do sabor do mérito. lembro de vezes que não fiz por merecer e não disse, mas lembro de muitas mais vezes que fiz por merecer e recebi elogios, criticas, ofensas, agradecimentos. não sou do tipo de falsa modéstia. admiro minhas qualidades. em algumas, não vejo sentido. as vezes desacredito-me. sou daquelas que tem muita fé e que nunca estão satisfeitas. meu esforço nunca é suficiente e, por acreditar em quem sou, sempre quero mais. prefiro não me resumir, mas quando é preciso digo apenas: ...

a paixão dura apenas dois anos.

no fim, o que resta, é o amor. o amor puro, sempre diferente, sempre indiscreto, sempre forte, sempre divino. o mesmo amor que faz com que eu escreva, que alguns fumem, se droguem, se matem, cantem, dancem, pintem ou simplesmente, apenas amem, como se amar por si só já fosse um grande feito (e o é). amor, sempre amor. por mais que fujamos, tentando negar nossas próprias obviedades diárias, tudo sempre termina em amor. assassinos amam sangue. loucos amam o dinheiro. pintores amam tintas e telas. escritores amam palavras. mães amam maridos, filhos, amantes. músicos amam o som. tudo se resume em amar. não há nunca um meio ou um final, o amor é sempre o início. sempre o começo. sempre o primeiro passo. sempre o agora. não existe passado para o amor, o amor não acaba. se acabou, não era amor. era admiração, carinho, respeito, desejo, paixão, necessidade, vício. a puta que o pariu. amor não era. amor é o instante que divide o tempo real e o irreal. o sensato e a loucura. e o infindável. o amor perdura para tudo. enquanto não há amor, não há verbo, nem sujeito, nem conjugações, nem objeto. não há nada. não há nada antes do amor.

2011-01-23

reencontro.

ontem vi seus olhos através dos olhos de um personagem naquele lindo filme.

me deixa esquecer do que poderia ter acontecido.

nada aconteceu de fato.

2011-01-06

abandona-me.

sempre soubemos a hora certa de dizer adeus.
para nossos pais, tardiamente.
para nossos amantes, secretamente.
para nossos objetos de uma noite só, pontualmente.
e assim seguimos com nossos amigos, cúmplices de uma árdua e inteira vida.
agora é a hora.
vamos: abandona-me.
só não me pede o mesmo... desaprendi certos maus hábitos.

2011-01-05

obrigatoriedade das coisas.

penso no que teria nos ocorrido se nossas escolhas fossem diferentes. se eu tivesse vestido a blusa vermelha ao invés da azul, sem saber que você odeia vermelho. se eu não tivesse mudado meu trajeto desmotivadamente só para topar com você no farol daquela avenida. ou ainda, se eu não tivesse lhe retribuído o olhar dócil que você me dedicou naquele momento.
sabe de uma coisa? nada teria mudado. ainda seríamos dormentes apaixonados, completos amantes inconscientes. ainda seríamos nós: os únicos capazes de nos fazer felizes.

2011-01-04

sem sentido.

é como se, ao mesmo tempo, eu estivesse a margem do abismo oculto que é o amor e alcançando o topo do mais alto céu, que também é o amor.
continuamos, como de costume, sem sentido.
e, como de costume, o sentimento é o mesmo.
é sempre amor.

2011-01-03

maus hábitos.

hoje assisti um filme incrível, romântico (é claro) e intenso, do jeito que gosto. quando assisto esse tipo de filme tocante, sinto como que uma vontade imensa e eterna de mudar, transformar a minha verdadeira e derradeira essência em outra, ou outras, diferentes da real e presente. sinto como se eu tivesse que ser mais poética e empregar todas as frases de Lispector e Pessoa que tenho na ponta da língua, em todos os meus diálogos cotidianos como se assim, eu te tornasse mais romântica e incapaz de qualquer forma de controle, tal qual a protagonista do filme que assisti.

eu te amo e você ama outra, mas ainda assim te amo pois não consigo te odiar por amá-la. (?)
(é possível substituir o "amar" por "querer", "odiar", ou qualquer outro verbo que se encaixe na sua situação atual).

é muito curioso esse sentimento de poder tudo e deitar-se a cama imaginando dezenas de conversas sinceramente treinadas e, simultâneamente, sutis como um ator talentoso e jovem, que ainda não se apegou a técnicas de interpretação.

pois a vida é exatamente dessa forma, feita de papéis. e enquanto me distraio de pensamentos tolos sobre um rapaz desaparecido, você pode estar lendo e admirando ou lendo e simplesmente pensando "o quê essa maluca queria com isso", ou infinitas outras combinações que não cabe a mim listar. deixo o papel para o seu inconsciente.

listo aqui, um de meus maus hábitos: prática da falta de assunto, tediosidade.

2011-01-02

pássaros.

tenho um coração e é feito de pássaros.
atravessando um continente na troca de estações
perdi asas, vôos, deixei de cortar nuvens
e outros corações.

dia desses, atiraram nesse pássaro.
o peito sangrou.
as asas cairam, frágeis.
e acabou tudo como se nunca tivesse começado.

fim.