2011-05-03

farsa.

toda essa nossa estória não passa de uma farsa. seus dedos deslizando no meu braço para levantar a alça da minha blusa; nossos olhos se cruzando enquanto jantamos em falsa ingenuidade; seu olhar estático para minhas mãos tremulas; meus olhos piedosos enquanto você descreve seu dia difícil... não estou mais interessada em você ao ponto de ouvir suas bobagens, ao ponto de fingir tão sutilmente. você já não merece sutileza. então vamos combinar o seguinte: não me diga o que quer dizer, diga exatamente o que não quer dizer e acaba dizendo. diga tudo sem pontos e sem vírgulas. me diga sua alma. prometo que se cumprir sua parte do acordo, permaneço te dando chances, uma após outra, incansavelmente. estamos em um ponto irreparável, querido. estamos em um ponto em que eu já não consigo identificar onde você começa e onde eu termino. em um ponto em que nossa intimidade se tornou sufocante e estamos nos desgastando por demais, nos maltratando com nossos erros por demais. tento diariamente relevar suas falhas e esconder minhas falhas debaixo do tapete sujo que se tornou nossa convivência. esse fingimento é uma afronta ao que nos uniu. é uma afronta ao que nos mantém unidos. é uma afronta ao que nos fez amantes. precisamos nos separar para que continuemos unidos. uma contradição. sempre uma contradição. não imagino sua vida sem ter quem zele por ela. não imagino minha vida sem ter a sua por zelar. estamos correndo um perigo irremediável: a morte. não a física, obviamente, já que somos saudáveis na medida do possível. falo da morte intangível, a morte do abraço de despedida. esse momento se aproxima e o que nos resta é permanecer tentando, aguardando, mudando nossos móveis de lugar. desde que sucumbimos no amor, nada mudou. eu sou a mesma em dedicação, carne e palavras. e você: ainda é o mesmo?