2010-11-22

seleção.

os melhores, escolhidos por ilustres e amados amigos:

http://human-sketch.blogspot.com/2009/08/you-and-i-both.html
"Por ser sincero e suave." Por A.

http://human-sketch.blogspot.com/2009/07/0639.html
"Pela intensidade de sentimentos e por inteiramente você." Por V.

http://human-sketch.blogspot.com/2009/05/ainda.html
"Pelo tema ser incrível e por ser seu." Por. S.

http://human-sketch.blogspot.com/2009/12/e-ainda-resta.html
"Por que eu me lembro de você me ligar nesse dia." Por D.

http://human-sketch.blogspot.com/2008/11/fiquei-ali-sentada-olhando-as-pessoas.html
"Por fazer meu estilo de leitura". Por H.

Obrigada, eu amo vocês.

o mau tempo estará de volta?

Read it:

http://human-sketch.blogspot.com/2009/02/falta.html

Confesso, já fui muito melhor.

sgradevolezza.

Dezesseis de outubro de mil novecentos e oitenta e dois. Era o aniversário de 5 anos de Magdaleno. Nessa época, o pai, ainda vivo, não bebia, não fumava, não batia na mãe, não levava prostitutas para casa na ausência dela. Ele ainda era um homem bom. Ainda dava a benção quando Magdaleno, Sofia e Marisa iam para o colégio. Ainda comprava alimentos para a família, mesmo que escassamente. Mesmo que de qualidade tão baixa quanto às lembranças deste aniversário, perdidas em meio às fotografias sujas do passado. O bolo era temático, mas ele não conseguia remeter o tema a nada que ele gostava. Embora desgostoso, é preciso dizer que ele apreciava o tempo que a mãe dedicara a fazê-lo. Um tempo raro, precioso, cultuado e necessário. Escasso. Vazio de sentimentos, mesmo sabendo que a mãe o amava. Ao tempo dela. As maneiras dela. E então, na hora do tradicional “parabéns”, Magdaleno cortou o bolo, retirou a fatia lambuzada de merengue e colocou-a em um prato plástico azul. Enquanto ouvia algumas orientações de deveria entregar a sua mãe ou ao seu pai, ele não sabia. Ele simplesmente não sabia a quem entregar pelo simples motivo de alguém ter lhe dito um dia que o primeiro pedaço estava reservado ao alguém que o coração indicasse primeiro. E ele não sentiu seu coração se mover. Ele (o coração) permaneceu exercendo sua função: bater, bombear sangue, fazer o peito pulsar ou o que mais ele faça. Magdaleno tampou os ouvidos e fechou os olhos como se quisesse ser alheio as pessoas e seus sorrisos indiferentes, suas caras de dúvida e seus comentários maldosos – “que garoto burrinho” ele ouvira. Ainda assim não ouviu nada. Não sentiu nada. Abriu os ouvidos e destampou os olhos, desceu da banqueta em que estava, segurou o prato de plástico azul com firmeza – a maior de sua vida – e tomou a fatia para si. Simples. Prático. Arrebatador. Comeu o bolo trancado no banheiro enquanto tios, tias, as futuras prostitutas do pai, vizinhas (algumas que até se encaixavam na classe anterior), primos e desconhecidos vinham, aleatoriamente, bater a porta para perguntar o que ocorria. Nada. Esse era o grande e real problema. Nada ocorria. Sentiu-se enjoar com as próprias lembranças. No quê ele se tornara? O quê ele era agora? Correu para o banheiro e vomitou o café da manhã na pia já suja. Sentiu seu coração pulsar, olhou no espelho e se viu nojento, com veias saltadas no pescoço, a boca melecada e os olhos vermelhos. Além disso, sentiu-se vivo e pulsante. Ele realmente estava ali.

2010-11-21

um novo conto.

O dia mais espetacular da vida de Magdaleno começou em um dia comum, como todos os outros, com luzes comuns iluminando as mesmas ruas, trajetos e caminhos e sons comuns que ecoavam com a mesma precisão de sempre, pelos mesmos lugares de sempre, a habitual rotina diária.
Magdaleno acordou com sono e seu cão lambendo suas orelhas, levantou e sentiu a madeira fria e lisa do chão de seu quarto e resolveu amanhecer: abriu as cortinas, tomou banho, escovou os dentes, vestiu-se com terno, camisa e gravata aleatórios, desceu as escadas correndo e alimentou-se. Enquanto alimentava-se não notou sua mãe sentada estática na poltrona da sala.
Subiu novamente ainda comendo uma torrada com geléia, escovou os dentes de novo, deu uma última checada no espelho, pensou no que o fez escolher aquela gravata verde esmeralda, pegou as chaves do carro, tropeçou no pobre cachorro que latiu e desceu.
Ele já estava chegando no carro quando se lembrou que se esquecera de se despedir da mãe. Então retornou, abriu a porta, atravessou a cozinha até a sala e, ao abaixar-se para se despedir, notou que ela estava fria. Não fria como alguém fica em dias gelados de inverno. Ela estava notoriamente fria. Não apenas fria, ela estava morta.
Magdaleno tentou afastar o primeiro pensamento de morte que lhe viera, mas foi inevitável. Ele não podia entender e nem queria, estava atrasado para o trabalho. Apagou o primeiro pensamento e saiu, deixando-a lá.
Cerca de uma hora depois, já na empresa, Magdaleno mergulhou inconscientemente em lembranças da vida que teve, da vida que tinha até encontrar a mãe gelada, morta, na poltrona da sala.

continua...

2010-11-18

a única faísca

que surgiu entre nós foi a chama da dúvida.

eu sou eterna interrogação, mas posso ser a resposta perfeita para as perguntas cabíveis.

2010-11-17

sem título.

eu vejo passar por mim suave, seus olhos não me reconhecem nem a sua pele.
te puxei pelo braço e você não olhou de volta, te chamei e você não me ouviu.

o que houve?
eu não sou a mesma que você notou três anos atrás no corredor da faculdade.
não sou a mesma que te fez ter ódio de si mesmo e remorso por ser tão fraco ao ponto de me odiar.
na realidade, sou sim. a mesma. imutável. errante. sagaz.
só que agora já não tão fraca quanto no passado.
agora já não tão errante.
agora já não tão cega.

eu cresci.
no alto dos meus dezenove anos notei que depressão não é sofrimento e que sofrimento não é chorar.
tive que lidar com a dor constante, tanto a física quanto a mental e adquiri ainda mais conhecimento sobre mim mesma e sobre o mundo, e as dores que ele sente.

tive de crescer
e saborear uma massa a romanesca sem pecado ou um dourado na manteiga feito em casa mesmo. aprendi a me agradar. a me acariciar. a me amar com mais intensidade do que aos outros.

e você?
mudou o seu olhar? trocou seus óculos inumeras vezes até entender que sua estrutura ossea não foi feita para óculos, quando voce decidiu usar lentes.

e você?
alterou os seus valores? toda a sua lista de valores e "coisas que jamais farei" foram esquecidos da mesma forma que a mulheres que você namorou e disse amar. por um dia.

nunca estaremos tão perto de ficarmos juntos novamente quanto naquele dia, aquele treze de fevereiro em que você me trouxe em casa.

nunca, pois não há mais o que ser feito.

p.s.: iniciado em 13/02/2010, finalizado em 22/10/2010, publicado agora.