2009-05-10

ainda.

[...]
ainda que o tempo espere e que as folhas murchem e que Romeo pare sua serenata de desafio aos Capuleto. ainda que a lágrima suba a face cansada ao invés de escorrer em direção a boca envelhecida e contraída, ainda que as mãos se renovem, ainda que o creme anti-idade funcione, ainda. ainda que a televisão desligue e as cores se apaguem, ainda que as músicas no rádio se calem, ainda que o mundo se torne silêncio e degradês de cinza, ainda que o cinza seja quase preto ou quase branco, ainda que quase nada. ainda que o chá esfrie e perca o sabor, ainda que as canções cessem para sempre. ainda que o abraço dure milhões de centésimos de segundo, ainda que centésimos de segundo sejam o mesmo que um ano inteiro ou a eternidade ou ainda o infinito público, ou particular, de outro ainda.
[...] e se o trem espera, ainda há espera mas ele voltará ao seu curso e o ainda se findará. e se a torneira se fecha e a água não mais sai, ainda há a chance de uma mão abrir de súbito a torneira espantada. e o ainda se fecha no escuro de olhos que ainda guardam esperança. o ainda se mantém em mentes vazias em desespero de um amor impossível ou até possível. e se a possibilidade existe, ainda há a falha, ainda existem os erros, ainda há o pecado. e se todo ainda tem uma resposta em eco na imensidão, qual será a resposta do grito surdo: AINDA?(!)