2010-11-21

um novo conto.

O dia mais espetacular da vida de Magdaleno começou em um dia comum, como todos os outros, com luzes comuns iluminando as mesmas ruas, trajetos e caminhos e sons comuns que ecoavam com a mesma precisão de sempre, pelos mesmos lugares de sempre, a habitual rotina diária.
Magdaleno acordou com sono e seu cão lambendo suas orelhas, levantou e sentiu a madeira fria e lisa do chão de seu quarto e resolveu amanhecer: abriu as cortinas, tomou banho, escovou os dentes, vestiu-se com terno, camisa e gravata aleatórios, desceu as escadas correndo e alimentou-se. Enquanto alimentava-se não notou sua mãe sentada estática na poltrona da sala.
Subiu novamente ainda comendo uma torrada com geléia, escovou os dentes de novo, deu uma última checada no espelho, pensou no que o fez escolher aquela gravata verde esmeralda, pegou as chaves do carro, tropeçou no pobre cachorro que latiu e desceu.
Ele já estava chegando no carro quando se lembrou que se esquecera de se despedir da mãe. Então retornou, abriu a porta, atravessou a cozinha até a sala e, ao abaixar-se para se despedir, notou que ela estava fria. Não fria como alguém fica em dias gelados de inverno. Ela estava notoriamente fria. Não apenas fria, ela estava morta.
Magdaleno tentou afastar o primeiro pensamento de morte que lhe viera, mas foi inevitável. Ele não podia entender e nem queria, estava atrasado para o trabalho. Apagou o primeiro pensamento e saiu, deixando-a lá.
Cerca de uma hora depois, já na empresa, Magdaleno mergulhou inconscientemente em lembranças da vida que teve, da vida que tinha até encontrar a mãe gelada, morta, na poltrona da sala.

continua...