2009-03-18

o fim.

agora, silência a boca dos beijos meus. pára de beijar a alma de quem te observa e apenas observa, atentamente, os sinais. são calmos e sutis. uma cortina aberta para o sol pálido, lá fora. não se desespere, você saberá quando for a hora e estacionará à margem do relógio. não se assuste com o tique-taquear contínuo e insistente, lhe prometo quebrar a hora. lhe prometo, também, ficar ao seu lado quando nossas vidas passarem velozes e se o desejo nos impedir de esperar, eu o esmagarei como a uma maçã podre. se o destino tentar o mesmo, apagarei sua marca de sangue, suor e vodka no papel de seda e esqueceremos do que, um dia, existiu neste espaço, tempo, universo, pedaço, centelha de nada. seus olhos não verão sem seus óculos de tartaruga. seu estilo arrojado, sua elegância natural, não mais te servirão. aprecia agora o fim. está tão próximo que quase pode tocá-lo. encosta teu dedo nele e vê: água e vinho, vinagre puríssimo, escorrer pela pele áspera e sem cor. enxuga tuas lágrimas de cobra, seus olhos cegos sem luz, suas pálpebras invisíveis. o lenço cairá. estarás partido em dois. metade eu, metade você. um metade tem coração, a outra, vazia, aguarda o transplante. um só coração que bate por dois corpos. não há compatíveis. não te aproximas agora, vais estragar o grande final. há um pendulo belo diante da sua fronte. não o toque, pode quebrá-lo. olha apenas, sem desejá-lo, sem tocá-lo, sem ferí-lo. é um parasita. um sangue-suga que apenas o sangue, não suga. mas suga tua alma e te enche de horror. beba na minha boca o elixir que te matará. não há amor aqui para ti. apenas vazio, páginas viradas em branco, livrarias sem palavras. é o que te resta: nada. e o que és também isso: nada.