2012-09-10

uma necessidade.

eu preciso de amor. preciso de amor escrito, amor falado, amor jogado na rua como uma criança órfã. preciso de amor nos olhos nus, nas mãos enfiando dedos numa massa de bolo de cenoura, chocolate, limão. hmmmm, e amor na pele transpirando. preciso de amor no suor, no perfume natural de um corpo palpitando. preciso daquele amor urgente, exasperado, dependente. o amor de um viciado. e quando cair em overdose, meu remédio, meu tratamento, minha cura também será amor. preciso de amor como um diabético precisa comer um doce, mais o nega. preciso de amor como quem diz não precisar de nada, quando não se tem nada. o amor é a minha única necessidade intrínseca, a única que não me abandona quando as luzes se acendem e o público se esvai. preciso de amor porque preciso do amor. e ele não precisa de mim. ele não me quer. ele me larga, me enxota, me chuta como a um cachorro velho e manco. o amor me despreza e caçoa de mim, como se eu fosse a mais otária das adolescentes apaixonada pelo atleta popular. o amor ri de mim como um crítico ri da idiotice de uma comédia-romântica, enquanto a classifica e a joga na sarjeta dos filmes melosos-trash. mas, ainda assim, preciso do amor. preciso do amor nas paixões de metrô, tão duradouras quanto o aviso de "please mind the gap". preciso de amor no sorriso de obrigado. preciso de amor no atender de chamadas à meia-noite, voz embargada por cerveja barata, rímel borrado e um pedido de desculpas. e também preciso de amor quando da ansiedade inicial, a dificuldade de aproximação, as pernas trêmulas para dizer um "oi". preciso de amor no dormir abraçado ao invés de transar com outro estranho de uma festa barata. o amor que me afaga de manhã cedo, mesmo quando babo no travesseiro, mesmo quando ainda tem remela no olho. preciso do amor cruel de noite e amável de dia. mas que também saiba inverter a ordem. preciso do amor que me machuque ás vezes, mas me cure na maior parte do tempo. necessito desse amor que solte faíscas, que me enlouqueça de tanto pensar em amor, amor, amor. preciso do amor na loucura, porque o amor é insanidade. preciso de um amor acabe comigo, me tire do sério, me faça perder noites em claro e dias em devastação pura. preciso do amor dos versos de Drummond, mesmos os mais pervertidos. mas também preciso do amor irreal, aquele sonhado por Vinícius e Tom, cheio de bossa, cheio de prosa, cheio de graça e mentiras no vento. um amor que me dê amor. um amor que me faça cafuné e um suco de laranja. um amor que me permita me amar. e eu quero amar esse amor também. mas o que eu quero mais, independente de como venha, independente de quem o entregue e de como o faça, sem importar a marca, a cor ou cheiro, o que eu mais quero e preciso é amor.