2012-09-28

"para sempre é sempre por um triz."

Outro dia levei o maior tombo andando pela Avenida Paulista porque me distraí com um ciclista que parecia demais com você. Esse cheiro de chuva me lembra do cheiro do seu cabelo molhado na praia. Esse clima frio parece me aproximar do seu clima aí. Toda essa atmosfera triste que toma São Paulo em dias chuvosos me lembra você, o seu desgosto nesse clima pobre, sua voz repetindo putain putain putain, seus dedos incansáveis batendo na mesa de mogno. Julho não tinha mesmo de ser frio para você, como era para mim aqui. No fim das contas, a chuva tomou conta de tudo, me alagou em pensamentos bucólicos e me trouxe até essa folha de papel, para dizer o que restava, para continuar a minha sinfonia do adeus.
Outro dia, lembrei de você no metrô. Lembrei quando você desenhou nossos nomes no vidro embaçado da janela do hotel. Lembrei quando você me apresentou sua melhor amiga e não me chamou de namorada, me chamou de amor. “Esse é o meu amor” – você disse. Recordo agora de você deitado no Leblon, me olhando e me fotografando enquanto eu cochilava. Você ria das minhas pintinhas no pé, dizia que pareciam um jogo de “ligue os pontos”. Eu ria da sua facilidade em me agradar, me acalentar, me fazer feliz. Tão simples e delicioso. Lembra quando você cantou She Will be Loved voltando bêbado da minha festa de despedida na praia? Eu lembro tão lindamente dessa noite, lembro que foi ali que, sem querer, me apaixonei por você. Também me lembrei de quando você me disse que não sabia expressar sentimentos e admirava minha facilidade com palavras. Pensando bem, agora que tudo parece mais claro, você nem me conhecia tão bem assim. Escrever nunca me foi fácil. Quando escrevo, quase que todas as vezes é porque sinto dor.
Ontem, antes de dormir, comecei a relembrar dos motivos que nos levaram ao fim. Então entendi: amor é abandono. Por isso que eu deixei tanto de mim para você. Por isso que não me importei em te enviar uma carta amarela com escrita em vermelho rubi. E também por esse motivo que minhas lágrimas, que caíram demais, cessaram. Até a dor me abandonou. Todo o conjunto da obra romântica que constituímos em 327 dias, se foi. E eu não teria feito nada diferente. Eu não pediria que você tivesse feito nada diferente. O amor foi bom, mas se foi.
Uma vez você me disse que ia me mostrar todos os seus lugares preferidos na sua cidade, que ia me levar para comer o melhor pain au chocolat, que ia me ensinar a diferenciar as boas baguetes das ruins, que ia me apresentar para todos os teus amigos como a mulher da sua vida. Você me disse que íamos passar uma semana na casa da sua irmã no interior, que ela ia gostar muito mim e nos apoiaria para os seus pais. Também me disse que íamos andar de bicicleta uma madrugada inteira, mesmo que congelássemos de frio ou que nossos pés se contorcessem de cãibras. Você me disse que teríamos um apê lindo em Nova Iorque, nossos filhos iam brincar todos os dias no Central Park e íamos fazer uma coleção de arte juntos. Íamos envelhecer juntos, no seu sonho. Íamos comer pizza todas as segundas-feiras, para começar as semanas deliciosamente. Nossos sonhos juntos eram dos mais bonitos, planejamos os mais lindos divertimentos. Mas, no fim, era tudo tão frágil que se esvaiu como espuma do mar na areia. Se instalou rápido e, também rápido, se foi. E eu bem que te disse: amor bom chega rápido, toma e devasta tudo. Às vezes fica, às vezes vai. Foi o Chico também quem disse que para sempre é sempre por um triz. Mas é sempre bom, mesmo quando é ruim. Mesmo quando dói. Amar é a coisa mais linda que podemos fazer pelo mundo.
Não nego que queria que durasse eternamente, que sonhei nossas mãos se entrelaçando sem que nunca houvesse outro alguém para segurá-las além de nós. Não nego que muito do que doeu, foi por eu pensar demais nos “poréns” e “talvez”. Não nego que todos os machucados, que agora eu trato de esconder as cicatrizes, poderiam ter sido evitados, tanto por mim quanto por você. Mas as lembranças, mesmo que eu queira mantê-las longe, só vão preservar o melhor da nossa história. Toda a dor, as frustrações, os anseios e as promessas que fizemos e nunca mais iremos cumprir, tudo o que era meu e eu te dei, e tudo o que era seu e você me deu: disso tudo, só restou o que foi bom. Terminamos assim, como naquela canção que dizia que “toda história de amor tem seu fim”. E esse é o nosso, querido.