Desperto. Ainda não abri os olhos, apenas reacendi meus
sentidos e, ainda preguiçosa, passei a me atentar ao que acontecia ao meu redor
antes mesmo de abrir os olhos e me levantar. No segundo em que me percebo
desperta, meu primeiro pensamento é você. E então, como que uma reação
biológica do meu corpo ao seu nome, sinto um calor tomando minhas veias e artérias,
como que eletricidade acendendo cada um dos meus sentidos e calibrando-os ao
nosso amor. A partir disso, passo a sentir tudo: o calor do seu corpo enlaçado
ao meu, sua respiração calma na minha nuca, o peso e força do seu braço sobre o
meu tórax, o conforto dos seus pés quentes tocando os meus, a pressão da sua
mão contra a minha... Tato. Numa nova onda elétrica, dessa vez acendendo meu olfato, sinto seu cheiro. Não os resquícios
do seu perfume (que eu adoro), não é isso. É o cheiro que saí dos teus poros,
na sua transpiração, o perfume natural que repousa ali, impregnado na pele que
eu não canso de afagar. Essa sensação inebriante causada pela sua essência
desenha em meus pensamentos um caminho deliciosamente delicado até minha
memória gustativa, um misto de sabores e texturas que compõem o que aqui não
dou um nome ou dois, apenas chamo de você.
O gosto teu, o seu sabor. Minha boca se enche d’água ao retomar o roteiro do
último beijo de boa-noite, como que se estivesse se preparando para um alimento
– e está. O meu amor por você começa antes mesmo que eu abra meus olhos. Quando
eu finalmente o faço e te vejo ali, descansando sereno, com os lábios
entreabertos, os olhos se movendo lentamente em sonhos diversos, um respirar
plácido... Ali, bem ali, eu já sabia que te amava. Antes mesmo dos seus verdes olhos
se abrirem como um sorriso, antes mesmo de se fecharem novamente para então os
lábios esboçarem um sorriso, ainda antes do seu primeiro “bom dia” e também antes
do nosso primeiro beijo, antes mesmo de me dar conta de mim mesma, eu já te
amava. E sei disso sem nenhuma certeza, mas afirmo com total convicção e, sim,
é uma incoerência, mas o amor o é. Então alicerço meus sentidos e sentimentos
no verbo amar, em plena consciência de que o amor não é uma certeza, mas estar
amando é. E assim te confesso: desejo um mundo feito só do seu abraço. Desejo
não precisar caber nosso amor somente no escrito ou falado “eu te amo”. Desejo
amanhecer mais dias ao seu lado, em que a maior distância entre nós seja a de
um abraço. Desejo que prefiramos ser cobertos de beijos do que de razão. Desejo
que nos tratemos sempre com preciosismo, envolvimento e parceria. Desejo que
desejemos sempre a simplicidade: dormir juntos, acordar juntos, ficar juntos e
o que mais o futuro juntar. Desejo mais de nós: enlaçados na cama e na vida,
dormindo e acordando agarrados, fazendo cafunés, dividindo o dia-a-dia,
compartilhando medos e segredos, construindo sonhos e planejando o futuro.
Desejo mais de nós dois no sofá da sua casa ou na minha cama apertada,
partilhando amor a todo momento, não só quando bater a carência numa tarde fria
ou num domingo à noite. Desejo mais que desejar: desejo que realizemos tudo
isso. E que meus sentidos sempre encontrem os seus, como nessa manhã e na manhã
de ontem, na de anteontem e na de todas as outras. E que, no fim das contas e
no início delas, o que importe é que nos amamos. É o que fizemos no nosso amor.
É a nossa conexão, são os nossos sentidos, ou como você diz, o nosso cheiro.