2012-10-07

Deus lhe pague.

mais uma música do chico, mais uma dose, mais uma noite. aprendi a beber uísque, mas continuo saindo com caras que mal aguentam duas garrafas de cerveja. tô fugindo do dia, tô correndo na noite, tô perdida na estrada. não sei o caminho que pego, não sei se devo alguma coisa. mudei muito, mudei demais, mas as vezes pareço a mesma. as vezes pareço aquela menina tonta de dois anos atrás, aquela menina que curtia joguinhos, aquela menina que se importava demais. e eu tinha largado desses vícios. tinha aprendido a apreciar minha própria companhia, a dispensar mais uma noite de "amor malfeito e depressa, fazer a barba e partir", tinha aprendido a dispensar minha simpatia e ser como sou: mal humorada e chata, sem dó e sem interesse, sem perdão nem piedade. sentada no meu quarto, ouvindo um jazz, bebendo o que eu achasse na geladeira que rendesse um sossego leve, um sorriso fácil, um cantarolar despercebido. sentada no meu quarto, eu esperava um "alô". sentada no meu quarto, o vinho descia mais difícil que uma britadeira. sentada no meu quarto, a ausência é um prato sem sabor, como comida de hospital. toca mais um jazz, toma uma bebida mais forte, encontra outro corpo na noite. tão indecisa com a quantidade de opções quanto numa loja vazia. esperando toda boca ter o encaixe pra minha, procurando em toda mão o acalento pra minha pele, guardando todo o espaço pra quem queira ocupar. e ninguém vem. ninguém vem. ninguém. o álcool vai se diluindo no sangue, se dispersando no meu corpo que vai ficando quente, quente, quente. vontade de ligar e chamar um rapaz qualquer. vontade de atender a ligação de um outro cara qualquer. vontade de aceitar o convite de outro fulano qualquer. e dançar uma noite inteira, enlouquecer e acabar com meus pés numa pista de dança ao som de bowie, perder a cabeça e me deixar ser levada as alturas, pra cima da mesa, pro 12o andar, pra cima da cama. me deixar ser levada a outro quarto escuro, a outro colchão molengo, a outra toalha de café da manhã. e ser quem eu sou: resmungona e calada, displicente e levada. sem a menor vontade de agradar a qualquer um que não seja eu. mas enquanto eu reflito embebedada sobre a diferença do efeito de minhas mãos ou as mãos de outro alguém passeando aqui, adormeço. no fim, mão nenhuma fez diferença. ainda acordei com vontade de você.